Não é novidade que a procura por alternativas ao leite de vaca e seus derivados tem crescido massivamente nos últimos anos. Alternativas a base de plantas, como o leite de soja, amêndoas, de arroz, entre outros, já são amplamente comercializados.
Essa busca por uma alimentação mais saudável, reduzindo o consumo de carnes, leites e seus derivados, é impulsionada por fatores como: (I) a conscientização sobre a cadeia produtiva utilizando os animais como matéria-prima, (II) o aumento de doenças relacionadas com o consumo excessivo desses itens, (III) intolerância a leite e seus derivados. O aumento no preço dos produtos, assim como a preocupação com a ligação entre o consumo de animais e doenças infecciosas, também são fatores-chave que impulsionam o crescimento do mercado vegano.
Toda essa procura abre uma janela de oportunidade para as empresas, tanto consolidadas quanto startups, para inovarem no setor alimentício. E foi observando o potencial desse mercado que a startup Perfect Day desenvolveu um método diferenciado de produzir proteínas do leite similares as reais, sem precisar abater nenhum animal e com drástica redução de poluição (fig1).
O primeiro passo da equipe foi entender quais os ingredientes-chaves presentes no leite eram os responsáveis pelo seu valor nutricional e consistência. Eles descobriram dois ingredientes que fazem esse papel: A caseína (que é uma proteína) e a proteína do soro do leite (whey).
Para produzir essas proteínas no laboratório, a estratégia da empresa foi coletar o material genético das vacas. Essa coleta pode ser feita de forma não invasiva, através de swab (cotonete raspado na bochecha do animal) ou – melhor ainda – a informação genética pode ser conseguida através de bancos de dados científicos gratuitos publicados digitalmente.
Após conseguir o material genético, eles o introduziram em fungos, utilizando-os como “mini fábricas de proteínas do leite”. Os fungos são ferramentas seguras e muito utilizadas no meio alimentício, eles possuem uma alta taxa de proliferação e são bons para produzir proteínas animais.
A produção em larga escala também foi alcançada pela equipe. Para isso, eles cultivam a microflora (fungos contendo o material genético das vacas) em grandes tanques de fermentação. Nesses tanques, a temperatura, o pH e a salinidade são estritamente controlados para que o produto final seja o mais puro, seguro e similar o possível com as proteínas do leite real.
Em 2019 o produto foi reconhecido e aprovado pelo FDA (agência reguladora dos EUA) e já pode ser encontrado para a comercialização. Segundo o CEO da empresa, Ryan Pandya, as proteínas do leite livre de animais produzidas pela empresa são idênticas às encontradas no leite de vaca e são algumas das proteínas mais puras encontradas na indústria alimentícia.
Além de ser uma fonte mais sustentável para a “produção de leite”, o produto também é livre de lactose, colesterol, hormônios e antibióticos. Propriedade essa que tem o potencial de atrair um público ávido que antes possuía uma dieta muito restrita. Como meta futura, a empresa também pretende produzir gordura similar a animal.
Alcançar esse objetivo será um passo importante, visto que a gordura é um elemento essencial para dar forma e gosto a inúmeros alimentos. Atualmente, conseguir reproduzir gordura em laboratório é uma das grandes limitações no setor de comida livres de animais
Em 2020 a empresa recebeu um aporte equivalente a $300 milhões de dólares! Atualmente, o seu produto está presente em mais de cinco mil lojas nos EUA e é utilizado em formulações de sorvetes, yogurts, cream cheese e derivados (fig 2). Uma expansão para os mercados do Canadá, Índia e Europa está em andamento. A empresa conta com um grande Conselho Consultivo de Sustentabilidade e Saúde, incluindo o ator Leonardo DiCaprio.
Referência
https://perfectdayfoods.com/
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